Uma série de curiosidades e bizarrices Câmara Cascudo deixou registrada no capítulo 8 do livro Rede de Dormir. São inúmeras e interessantes que tal capítulo renderá mais de um post. Começamos pelos primeiros "designers" de modelos de rede, os engenheiros da Inspetoria Federal de Obras contra as Secas. Vejam:
"Quando as redes eram feitas, unidade por unidade, e não em séries, mecanicamente, estavam todas dentro de moldes fiéis às conveniências tradicionais. Os tipos tinham seus destinos, previstos, antecipados, sabidos. Eram quase sempre 'redes de encomenda' e obedeciam aos modelos inalteráveis nas dimensões e cores. Azul, encarnado, amarelo, verde eram as tonalidades preferidas, evitando-se as que sugerissem tristeza, viuvez, luto, morte, o lilás, o roxo, o negro, para os lavores e bordados ornamentais.
As redes em branco e negro tiveram mercado depois de 1889. O comum, antigamente no Nordeste, era a rede branca como a mais vistosa e digna dos ricos pelo aspecto imaculado, exigindo cuidados e desvelos na conservação.
As redes de cor não eram as mais caras e nem as melhores (...). Ficavam nas residências medíocres e menos prestigiosas. (...) As redes brancas eram as tradicionais da aristocracia rural, com varandas varrendo o chão. (...)".
(...) "Um elemento modificador, de bordados, dimensões e cores, foi a Inspetoria Federal de Obras contra a Seca pelos seus engenheiros e pessoal de escritório, de chapéu de cortiça, polainas e óculos. Encomendando muita rede para levar (curiosidade do sertão) para os amigos sulistas, sugeriam e impunham gostos pessoais que eram cegamente satisfeitos. Assim nasceram varandas de recortes irregulares, desenhos berrantes, mistura de cores (...). Quando se ouvia o engenheiro anunciar o 'mandei fazer uma rede', sabia-se que as modificações participariam da encomenda porque 'ficava mais bonito'. E estas modificações ficaram como feições decorativas normais".
A foto acima publicada no livro é acompanhada da legenda: "Sesteando em varanda paulista".
No próximo post continuaremos ainda com o capítulo 8 do livro Rede de Dormir. Para ver todos os posts desta série clique em Marcadores/História da Rede.
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